terça-feira, 21 de junho de 2011

Homem sensível: afinal para que serve isso?


Claudio Manoel
           Eles eram raros. Tão poucos que, enquantos muitos duvidavam até da existência deles, outros só os reconheciam no imaginário do mulherio: no terreno dos contos-de-fada e das lendas, no campo florido dos sonhos delas.
             Eles eram os príncipes encantados (hoje, vampiros que não mordem), garbosos, lindos, românticos e depilados. Surgiam, repentinamente, nos seus cavalos brancos e as levavam para um reino distante, bem distante da vida real.
             Mas aí a vida real mudou. Veio pílula, veio feminismo, veio mercado de trabalho e as moças passaram a querer mais, é claro.
Afinal, depois de milênios sendo propriedade de machos (pais, irmãos, maridos), em geral abusivos, quem é que não sonharia com um outro tipo de homem pra chamar de seu ? Até tu. Até eu!
              E foi assim que, de pouquíssimos, eles passaram a ser milhões. Atendendo a imensa demanda represada, surgiu o maior produto/legado das conquistas femininas (depois da pílula e do mercado de trabalho, eu acho): o “Homem Sensível”.
              O novo espécime foi substituindo aos poucos, o modelo mais antigo: aquele bem mais tosco, grosseiro, peludo e de hábitos higiênicos duvidosos.
             Ainda bem. Ninguém agüentava mais aqueles trogloditas. O mundo ficou muito mais legal com meninas mais legais, estudadas e poderosas. A tal da libertação sexual, realmente, é bem mais divertida. E a possibilidade de rachar a conta também não foi mau negócio para los muchachos.
             Mas a coisa não parou aí. Com os antigos competidores totalmente desvalorizados ou postos na “clandestinidade”, o HS passou a reinar absoluto como objeto de desejos delas, aniquilando e substituindo, para sempre, o seu ancestral primitivo.
             Na declaração de guerra, tudo que foi catalogado como comportamento masculino foi visto com desconfiança ou pesar. Quase nada ficou de fora: agressividade, hiperatividade, superficialidade, nossos pelos… tudo era prova de nosso machismo. Tudo precisava ser reeducado (e depilado).
             É claro que ninguém defende mais besteiras como “homem não chora”. Mas quem é que, pelo menos, discute a utilidade prática de um chorão ? Um camarada que está sempre “fragilizado” mata barata ? Abre tampa de frasco? Vai ver se tem ladrão lá fora?
             Depois que paramos de ter que ir, sozinhos, matar o mamute nosso de cada dia o mundo melhorou. É muito mais interessante um planeta, uma empresa, um lar, onde os(as) cabeças não sejam oprimidos porque nasceram com o sexo errado e todos ajudem a pagar a conta. Ou seja, pra nós hombres o fardo ficou mais leve. Agora já temos com quem compartilhá-lo.
             Mas não teríamos chegado até aqui, sem boa parte do que hoje é visto como comportamento masculino nocivo. Sem ansiedade, testosterona e agressividade não caçaríamos mamutes, não construiríamos cidades, nem fabricaríamos cremes contra celulite. Puxada de cabelo, com tapinha na bunda então… nem pensar.
             Com tudo isso, a obsolescência do primitivo e neanderthalesco machão deve ser comemorada. O que não significa que o novo tipo, esse que tem suvaco liso, tenha alguma utilidade.
             Então, que opção sobrou ?
             Sinceramente, como não é um produto do meu consumo, não estou muito preocupado com isso, não. Talvez a indústria tenha respostas (de vários tipos, com ou sem vibro), eu sempre preferi as perguntas.
             É claro que, para as meninas, o ideal deve ser o tal do “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”… o famoso meio-termo: o cara sensível e com pegada.Ao mesmo tempo, delicado e protetor…
             Bom, se alguma moçoila conhece algum cabra que goste de cinema iraniano e saiba trocar pneu, boa sorte. Eu sou cético, duvido da existência desse “elo perdido”. Acho que deve ser mais fácil encontrar o tal do “Príncipe Encantado”, com cavalo branco e tudo.
Claudio Manoel é humorista

Um comentário:

  1. Depois da legalização da união homoafetiva os caras sensíveis encontraram seus pares femininos ou assumiram de vez a homosexualidade.

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