quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Pequenos negócios, grandes prejuízos.

- Ô mãe! Num agüento mais aquele emprego na fábrica.
- Por que minha filha?
- A gente só falta morrer de trabalhar e no fim do mês o salário não dá pra nada!
- Menina porque que tu não sai dessa fábrica, pega teu dinheirinho e começa um negócio pra ti? Num instante tu fica rica! Se lembra da fulaninha? Se deu bem!
- É mesmo né, mãe....
Esse tipo de diálogo tem sido cada vez mais comum no Brasil de hoje. Com a falta crônica de empregos formais, a dificuldade imensa de se entrar no serviço público e a raiva que muita gente tem de trabalhar e ainda ser mandado, os pequenos negócios florescem em todos os cantos do país. E sem praticamente nenhum controle, além dos Sebraes da vida, que mesmo sendo de grande utilidade as pessoas preferem se arriscar na intuição ou na marra.
- Ora se eu preciso de ninguém pra fazer tapioca!
Assim começam os pequenos negócios na maioria dos casos. Sem nenhum planejamento, sempre achando que é só arranjar os clientes que tudo se resolve. É claro que isso não pode dar certo. As pessoas só pensam nos lucros e esquecem dos custos cada vez mais altos para se produzir alguma coisa no Brasil.
- Mas eu vendia mais de cem tapiocas todo dia e “quebrei que apartei”. Ainda fiquei devendo na praça.
Pois é. Uma coisa é você ser um empregado competente, outra coisa é ser um patrão competente. Conheço gente que quando empregado era o mais eficiente da empresa. Depois que abriu o próprio negócio não agüentou nem seis meses, já estava procurando emprego de novo. E o pior é que esse tipo de decisão muitas vezes não tem retorno. O cara não consegue mais se empregar e tem que continuar tentando ser seu próprio patrão.
E haja empreendimento falido. Aqui em Camocim, pela fama de cidade onde muita gente já enriqueceu com a pesca, todo mundo pensa logo em ganhar dinheiro com peixe ou camarão. Uns nem chegam a começar o negócio. Percebem logo que tem mais pescadores do que peixes e desistem logo. Outros mais ousados, eu diria amadores, investem alto perdem alto e saem desiludidos. Pesca em Camocim, definitivamente, não é negócio para principiantes. Pode ser até que melhore com a reforma do cais do porto que o Governo Federal está prometendo. Discursos já “rolaram” vários, das mais diversas autoridades.
Grandes e médios investidores estão em baixa por aqui. No entanto, o que tem de micro (mico seria o nome correto) empreendedor, aquele que odeia trabalhar (vou bem trabalhar pra ganhar salário?) só tem uma mixaria (ainda vou arranjar “mil conto” ali com um irmão e uma tia) e quer logo ganhar muito desde o primeiro dia. Esse tipo é o que mais tem e o que mais sofre. É só levando bordoada na cabeça. Prejuízo por cima de prejuízo.
Além de teimosos são também uns sonhadores, jamais desistem e depois que quebram a primeira vez, da segunda em diante tudo é festa. E haja prejuízo e dívidas. Aqui acolá faz um negocinho que dá certo, “livra uns trocados”, paga ali umas dívidas mais recentes e toca a vida.
- Cara, tô pensando em trazer a banda Jumentões do Forró pra Camocim. Tá “estourada” nas rádios.
- Faça isso não que é prejuízo na certa. Dia de domingo? Pode chover, aconselha o amigo já acostumado com esses negócios.
- Se eu vender mil ingressos a dez reais no antecipado, mais a bilheteria a 15, dá pra pagar a banda, o som, o clube fica com o bar, etc. e ainda sobra.
Aí, pra variar, a festa foi boa, a banda era show, mas choveu meia hora antes e só deu umas trezentas pessoas. Faltou grana pra pagar os seguranças... Ficou aquela sensação de “quase me dei bem”.
E assim vai. E são versáteis. Atuam em todos os ramos. Geralmente em negócios que possam ter lucro imediato. Uma festa boa, um bloco de carnaval, um desfile, cem quilos de cavala, camarão de cativeiro pra levar pra capital, mel de abelha, castanha, enfim, qualquer transação que possa ser transformada em lucro rápido e de preferência com pouco trabalho, interessa a esses micro-empreendedores.
Você conhece algum desses pequenos negociantes? Todo mundo já ouviu falar. Eu mesmo já quebrei a cara com um desses pequenos negócios. No começo dá aquela sensação de independência, de poder. Quando chegam as primeiras contas que têm que ser pagas e você não tem mais de onde tirar dinheiro, dá saudade do emprego na hora.
Têm uns poucos micro empresários que prosperam até porque gostam de trabalhar. A maioria se equilibra e muitos quebram. São as leis do mercado. O jeito é tentar de novo a fila dos desempregados ou esperar o ano que vem pra tentar se eleger vereador ou prefeito. Aí compensa o investimento. Ótimos salários, pouco ou nenhum trabalho realmente efetivo, ser chamado de excelência (deputado municipal), poder alugar sua D-20, entre outras mordomias. Não é fácil conseguir um desses empregos. Tem que trabalhar muito, ter “serviço prestado”, ser querido, ter estrela e um pouco de dinheiro pra se “movimentar” de carro. Se não só vai dar os mesmos de novo.

Fernando Veras

2 comentários:

  1. Conheço uns amigos que se enquadram perfeitamente no perfil desses empreendedores mal sucedidos. Vai que um dias desses eles acertam.

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  2. Muita gente sonha em ser independente e ter seu próprio negócio. Infelizmente poucos, raros são realmente bem sucedidos. A maioria abriu negócio, quebrou e voltou a trabalhar pros outros. É a mania de querer se dar bem na vida sem trabalhar ou sem saber trabalhar.

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